segunda-feira, 24 de junho de 2013

Quisera eu ter essa tal coragem
Quisera eu saber o que pensas
e desejar, sem medo, que me venças
E afogar-me nessa desvantagem

Cá aguardo que tua bela imagem
possa ser, algum dia, menos densa
à minha vista, nela tão intensa,
à minha mente, trancada em viagem

Poderei então ouvir tua voz
Sentir teu cheiro próximo a mim
Abraçando-te, no escuro, a sós

Ouvir-te-ei ao pé do ouvido assim
Sussurrando planos feitos por nós
Planejando ouvir-te dizer sim.

domingo, 19 de maio de 2013

Soneto da minha incerteza

Se penso em cada vez que não lhe entendo
Ao tentar ver tudo aquilo que fiz
Nada ao redor me confirma o que diz
Sempre me resto mais e mais sedento

Acredito ver, aos poucos, crescendo
Sem saber exatamente o que quis
Iludido por seus olhos gentis
Guiado por sua alma, desatento

Chegando perto duma conclusão
Outra vez, tropeço em dubiedade
E a faísca morre em escuridão

Em busca dessa almejada verdade
Aplico a mim mesmo o velho sermão
Até saciarmos nossa vontade

sábado, 19 de janeiro de 2013

Tua vez

Viver temendo o futuro
ou temer vivê-lo?
Eu preciso saber... através de ti.

Encher expectativas não significa sucesso
Pior ainda é deixá-las vazias
Por quê? Por quê?

Talvez necessitas agir
Ou, quiçá, não ages como deves
E tua demora justifica a minha

Ajuda? Conselhos?
Te dei todos os necessários
Agora, dá-me o que necessito!

Memória molhada

Ela colocou sua chaleira com água no fogão aceso e preparou a filtro, enchendo-o de pó de café. A cozinha apertada estava um pouco quente demais para seu agrado, então ela abriu a janela e olhou através dela, sentindo a leve brisa entrar. Viu seu quintal de grama seca, quase morta, e roupas recém-lavadas no varal que o cruzava. Olhou para o céu. Apesar do calor, as nuvens estavam escuras naquela tarde.
Imediatamente, perdeu-se em pensamentos, lembrando-se dele: ele amava a chuva, mas odiava os trovões. Ouviu então sua voz aguda e doce chamando por ela:
— Mãe!
Ele se adentrara, com os pés descalços e sujos de terra em contato com o piso limpo, uma flor qualquer em mãos, talvez mais uma das inúmeras apanhadas do jardim da vizinha, contudo, ela não se importava. Sentia sempre como se acabara de receber a mais bela e preciosa flor do mundo. Na verdade, nem era a flor que a alegrava tanto, era ouvir a ele chamando e se mostrando dependente dela, abraçá-la, com seu corpo miúdo e suado, depois de brincar no lado de fora durante uma tarde inteira, e poder sentar-se à mesa com ele no fim da tarde: ele tomando leite, ela, café.
Começara então a chuva em poucos pingos grossos, até ficar mais densa e começar a banhar o lado de fora. Ele se sentava próximo à janela, na cozinha apertada, e ficava admirando a chuva cair. A cor cinzenta do dia e o barulho das gotas caindo nas telhas e no chão o acalmavam. Eles ficavam então lado a lado, atentos à vida líquida que caía dos céus, conversando sobre qualquer coisa. Não era necessário afirmar em palavras o que sentiam. Era claro para os dois. Era real. Era mútuo.
De repente, um clarão rasga o céu em direção ao chão, seguido de um alto estrondo. Ela então pisca os olhos, agora cobertos por óculos que refletiam a luz do relâmpago. Ele não estava mais lá. A chaleira apitava, avisando que a água havia fervido. Pelo menos a chuva ainda caía lá fora, e era real, não apenas uma lembrança. Ela então despeja a água fervente no filtro de café, caminha até a sala, parando ao lado de uma pequena mesa num canto, onde repousava um telefone. Assim que o retira de sua base, começa a discar um número que está tão bem gravado em sua memória, como uma tatuagem na pele. Fica, silenciosamente, aguardando, até que uma voz, grave e doce, responde do outro lado da linha:
— Alô?
Um sorriso estampa-se em seu rosto marcado pelo tempo ao ouvir aquela voz que, apesar de ter mudado tanto, ainda lhe soava tão familiar. Agora ela não se preocupava mais com as roupas no varal, que a essa altura já estavam encharcadas. A chuva continuava lá fora. A grama já não morreria seca mais.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Eu queria saber por que...
Por que a insegurança agora está na liderança?
Por que o medo está onde a bravura deveria reinar?
Por que isso dói tanto, ao ponto de me agonizar?
E eu não sei chorar, não tenho voz pra gritar
e com as mãos atadas, tampouco posso gesticular
Não tem como explicar.
Não existe uma estrada para correr
nem um canto para eu me esconder
E fingir...
Mas está aqui, vivo dentro de mim
vivo e me matando, como sangue jorrando
E quando leio essa tentativa de expressão, rio
E depois, sinto-me ainda mais inútil
por tanto drama, talvez por exagero
mas ninguém vai entender meu desespero
e, de novo,
nada se resolve.
E eu queria saber por que...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Pra gente

E pensou que podia
então foi e fez
pois se ao menos dessa vez
fizesse o que queria
poderia então pensar
que realmente podia,
e faria
sem precisar se preocupar
mas logo precisaria
e talvez não aguentaria
mas aguentou
Lutou, sorriu e não chorou
desabou, mas não parou
levantou-se, recompôs-se, cresceu
e ninguém mais percebeu
até que, de repente,
surpreendeu toda a gente:
descobriu a palavra eu.
Desde então, esfriara
Restou-se como a pessoa solitária
Nunca mais se enamorara
Até que, novamente, com vigor,
sem pensar muito na dor,
redescobriu o Amor
Novamente sonhou.
Novamente cantou.
Sensibilizou-se e hesitou
Mas, felizmente (ou não),
doente ou são,
o Amor sempre ganha.
Foi inevitável pra ele
É inevitável pra gente.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Uma carta impetuosa

Está tudo bem. De verdade.
Afinal, a culpa não é sua se eu sou compreensivo demais, frágil demais, frio demais, agitado demais, estranho demais... Não é.
A culpa não é sua se eu não tenho um talento desenvolvido, sonho com uma vida simples, dou ouvidos às pessoas ou deixo de ouvi-las... Não é.
A culpa não é sua se eu sou covarde o bastante para escrever o que sinto ao contrário de dizê-lo em sua presença, cara a cara. A culpa não é sua se eu insisto em falar de uma forma além de sua compreensão. A culpa não é sua se eu sou solitário, mesmo cheio de amigos. A culpa não é sua se eu preciso que as pessoas me ouçam para me sentir melhor, e a culpa também não é sua se eu não me sinto melhor. Não é.
A culpa não é sua se eu não consigo chorar, mesmo quando preciso, e se sempre me mostro firme, mesmo quando já desabei por dentro.
A culpa não é sua se eu escrevo melhor quando estou triste, e também, a culpa não é sua se eu me sinto triste.
A culpa não é sua se eu prefiro o brilho dos olhos do que o brilho de luzes duma festa, muito menos se eu prefiro o brilho das estrelas, e a culpa não é sua se eu ainda não encontrei minha estrela, e jamais será se eu nunca a encontrar.
Logo, a culpa de tudo é minha e só minha, por ser tão imbecil ao ponto de dar tantas segundas chances, acreditar e escrever esta carta com meus sinceros pensares a alguém ainda mais imbecil do que eu.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Ensaiando um pedido de desculpas

Mesmo sendo insignificante,
dói muito, muito mesmo
E sempre é imprevisível...
Logo, a gente nunca se acostuma

Mas aguenta, apesar de já não aguentar mais,
esquenta ou, quem sabe, esfria,
Cria orgulho, erra, lembra, esquece...
mas ainda sente, e o segredo está aí

Então, vou engolir meu orgulho,
aceitar os meu erros e aceitar os teus,
me esquecer de certas coisas e me lembrar de outras
para, finalmente, pedir-te desculpas.

domingo, 26 de junho de 2011

Te quero

Te quero.
Sempre te quis, sempre vou te querer.
Te queria antes mesmo de te conhecer
Te conhecia antes mesmo de te querer
Mas sempre te quis.
Sempre quis te conhecer.
Conhecer?
Isso é o que eu queria
Conhecer o que era te querer
E querer quem eu supostamente conhecia
Era o que eu dizia...
Era o que eu sentia...
Sinto... Sinto muito, ou não
Sinto tudo, solidão
A solidão que tão bem conheço
Aquela que poderia evitar desde o começo
Aquela que eu não sei bem se mereço
Aquela que nunca mostro por assim escolher
E que existe, exatamente, por eu não ter
Não ter o que quero e não conheço
Ou talvez até conheça
Mas se tenho uma certeza
É que quero, mas não tenho.
E por não ter, tenho outras coisas mais
Tenho amor, tenho dor
Tenho calma até demais
Ao mesmo tempo, tenho pressa
Pressa essa que me cansa
Cansaço esse que me faz, em teus braços, querer descansar.
Descansar a te falar:
- Te quero.

sábado, 25 de junho de 2011

3M

Do canto ao violão
ou facilmente à emoção
Não sei dizer de uma vez
Mas meus dizeres vão a três
diretamente a vocês.

Se é ou não nesse momento
é sempre contentamento
Jamais teme
E tampouco perde o leme
do contentamento com M